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Transkilomba

 

Lourival Ferreira de Carvalho Neto

 

Jade Lopes da Silva é uma travesti negra que vive na comunidade quilombola de Surubiu-Açú, com cerca de 60 pessoas, na região do Baixo Amazonas, em Santarém, no estado do Pará, Brasil. Aos 56 anos, ela trabalha como pescadora, agricultora e apicultora. E realiza tarefas de cuidados físicos e espirituais no quilombo, sendo prestigiada pelo seu ofício de “puxadeira” e “consertadeira” – saber ancestral indígena que consiste na cura de machucados ósseos e musculares por meio de benzimentos e massagens. Ela puxa, conserta e benze cerca de 15 pessoas por semana, desde uma criança recém-nascida a um senhor octogenário e líder evangélico. A pandemia da Covid-19 aumentou a procura por sua atuação, mas não a renda: “Por dom, não se cobra”, afirma. Jade é líder comunitária e dirigente do “Beira Rio” – time de futebol masculino local. Atua como zeladora da Associação dos Remanescentes do Quilombo da Comunidade Quilombola de Surubiu-Açú (ARQCQSA), tarefa que desempenha semanalmente, antes de participar das reuniões e deliberações da comunidade. Seu corpo trans se soma à resistência ancestral da luta negra e indígena na Amazônia paraense.

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