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Fazendo a festa

 

Maria Clara Guiral


Cururuquara, Santana de Parnaíba/SPMaio de 2022

Inspirada em Geertz que aponta o caráter narrativo dos ritos (1973), na saída metodológica de Renata Menezes, Morena Freitas e Lucas Bártolo que sugerem “alongar” o dia da festa (2020), e na proposta de Stallybrass ao pensar objetos e relações (2008), este ensaio destaca a transformação do cotidiano em festa a partir da relação das pessoas com as coisas. Percebo a Festa do Cururuquara como um ritual que conta uma história sobre o bairro onde ocorre: reproduz seu mito de origem e acontece, desde 1888, em homenagem a São Benedito, com muito samba de bumbo durante a noite. Mas a festa começa, pelo menos, no dia anterior à noite onde tudo isso tem lugar. Ao contrário dos tambores que tocam apenas à noite, os preparativos acontecem apenas durante o dia e já iniciam o ritual. O ensaio realça as cores quentes, na tentativa de trazer a luz das velas e o vermelho dos enfeites para São Benedito. Ainda, varia os enquadramentos: quadros abertos e mais fechados intercalam para aproximar o olhar das coisas e à relação das pessoas com as coisas. As bandeirinhas penduradas, os babados de renda e fitas de cetim colados no altar, as rosas ao lado de São Benedito, o andor de Nossa Senhora do Carmo posicionado dentro da capela transformam aquele lugar inicialmente sem enfeite: a festa já começa a se manifestar. A vela acesa para São Benedito, o papel com as orações impressas da Reza Cabocla, os tambores sendo tocados: o ritual fica mais evidente. Uma zabumba dentro da Capela e uma rosa sendo retirada do altar como lembrança daquela noite: a festa chega ao fim. Ano que vem tem mais. 

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