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Modos de produção do brinquedo

Raissa Menezes

Taguatinga, Distrito Federal, 2019.
 

Os feirantes, toda quarta-feira, quando desmontam suas bancas, deixam para trás aquilo que não lhes será mais útil. A recicladora armazena os materiais levados diariamente pelos catadores até que complete a quantidade suficiente para encher o caminhão da empresa que irá buscar. Um grupo de artesãos trabalha com o reaproveitamento de papelão e saco de cimento, criando os mais diversos objetos. Nessa quadra de pequenos comerciantes, trabalhadoras autônomas e imigrantes, alguns materiais surgem no chão da lida comum. A imagem me remete a trechos da obra de Walter Benjamin em que os artesãos – e acrescento, as artesãs, além das donas de casa – aproveitavam os refugos de seus trabalhos para compor graciosas miniaturas; e em que as crianças entravam nas oficinas, atraídas pelos vestígios e pelo que poderiam  montar com eles. O brinquedo, antes de ser o objeto moderno que conhecemos hoje, criado por fabricantes especializados, é o subproduto das marcenarias, costurarias, olarias e vidraçarias. No Mercado Sul, local de realização da pesquisa, o papelão se destaca entre os materiais que dão forma e textura ao brinquedo. O saco de cimento também adere à brincadeira, oferecendo firmeza e recebendo colas e cores. A bricolagem permeia as relações de adultos e crianças garantindo um pouco de poesia à ordem urbana de Taguatinga, grande polo de serviços e comércios do Distrito Federal brasileiro.

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